sexta-feira, 13 de maio de 2011

Vitória ou extinção?

Espécimes maravilhosos. Fortes, vistosos, vigorosos. Foram chegando aos poucos ao país, capturados e trazidos até aqui aos montes.
Os mais fracos e doentes, jogados em alto mar antes do porto, para que somente os sãos, sobreviventes ao transporte inadequado, pudessem vingar.
As expectativas eram boas. Dentre eles os mais saudáveis seriam testados em cativeiro para o acasalamento, para aumentar e melhorar a raça.
Os machos sadios eram negociados a peso de ouro, pois deles dependia o próspero negócio de procriação. Ninhadas de descendentes.
Foram domesticados facilmente. Aprenderam, a duras penas, a obedecer ao comando dos donos, e serviram aos mais variados fins, desde força bruta até simplesmente companhia.
A alimentação foi se adaptando também. Fora do seu habitat natural, as necessidades foram se suprindo com o que havia disponível, apenas para suprir e saciar mesmo. Preocupar-se com a aceitação ou ao menos semelhança com a alimentação natural nem pensar. Assim foram se acostumando e adaptando.
E passaram-se os anos. A mortalidade natural foi acontecendo, mas com ela também aconteceram baixas aleatórias à natureza: caça predatória, captura como troféus, maus tratos.
Não basta cercar, prender, domesticar uma espécie se não disponibilizar-se também condições para sua independência, sustentabilidade.
Para isso foram criados programas de re-adaptação ao meio. Com paciência e estudos, conseguiu-se chegar a resultados favoráveis a sobrevivência de espécies raras, em extinção.
Pena que não houve a mesma preocupação com a raça negra no Brasil.
Em 13 de maio de 1888, abriram-se as portas das senzalas e simplesmente os libertaram.
Para onde? Como? Viver do quê? Eles sabiam apenas o que estavam acostumados a fazer: plantar e colher, em sua maioria. E no país daquela época não havia mais lugar para eles.
Lamento. Perdão pela comparação. Me emocionei até ao ler o que eu mesma escrevi.
Mas é a pura verdade: SE as autoridades da época, os senhores de escravo, barões e coronéis tivessem tido um por cento da preocupação que se tem hoje com espécimes que são colocadas em cativeiro e gerações depois libertadas, seria diferente, será?
Será que uma chance teria feito toda diferença?
Uma certeza apenas eu tenho, a de que quase todos nós, brasileiros, temos um pesinho ali naquelas senzalas, no sangue que corre em nossas veias.
E como me orgulho disso!

3 comentários:

Isilda Valle disse...

Não podemos mudar o que está feito. Mas podemos reeditar a história, aprendendo com os erros. As dores são necessarias e fazem parte do crescimento, da evolução.

Anônimo disse...

Mas, quando se fala em cotas, todo mundo é contra. Ninguém se lembra de tudo o q você escreveu, que os negros foram largados à mingua, escorraçados para os morros e favelas, porque chegavam ao Brasil os imigrantes europeus e asiáticos. A esses, foram dados moradias e salários. E aos negros? O esquecimento, o isolamento, a fome e a miséria.
Que todos os que são contra as cotas reflitam, independente se gostem ou não dos negros. Não queremos cotas ininterruptas, mas achamos que algo deve ser feito, a um período previamente demarcado. Se filhos e netos de estrangeiros têm seus direitos assegurados em outros países, que seja dada até uma determinada geração a possibilidade de se resgatar um erro terrível.

Unknown disse...

Maura,
eu creio que vc deveria escrever um livro de crônicas cotidianas, vc escreve muito bem e além disso, tem opiniões fortes e argumentos inquestionáveis. Pense nisso!!!
parabéns pelo texto!!!