sábado, 31 de março de 2012

O luxo do lixo!

Na noite de ontem - sexta-feira 30 de março 2012 – felizmente estava eu em casa assistindo a novela das 9 da Tv Globo "Avenida Brasil!” de João Emanuel Carneiro.

Até aí, nada demais, nada diferente a milhares de famílias deste brasilzão em que o melhor programa  é ficar em casa, relaxar e assistir a tv aberta (é “digratis” né?).

Quem acompanha a trama muitíssimo bem traçada pelo autor, percebe as nuances bem delicadas da cada núcleo, que como todo início de novela nos apresenta as histórias dos personagens que se cruzarão durante todo o tempo no enredo. Pensando bem deve ser difícil “demais da conta”, como diz o caipira, enxergar estes relacionamentos no ato da criação. É preciso deixar claro quais os personagens que serão os peões entre os núcleos, aquele que se relacionará com vários setores e por esta razão o objetivo será traçado, em cima disso.

Mesmo com toda esta complexidade, é possível se traçar uma linha reta e enxergar quais os personagens chaves. Nem por um momento eu seria capaz de idealizar tamanha estrutura, jamais.

O que salta aos olhos do espectador é a delicadeza com que certos temas fortíssimos estão sendo abordados. A duríssima realidade dos que dependem do lixo, da podridão dos restos dos outros é um deles. Podemos até sentir “o odor putrefato” do ambiente, coisa que para os que ali perambulam, já deixou de ser problema, “acostuma-se”. A exposição constante ao perigo e doenças diversas que provem de nossos restos é imensurável, mas o autor nos mostra de maneira absurdamente séria a crueldade dos que ainda por cima, não bastasse o lixo, ainda criam o “lixo humano”, daqueles que por sorte ou pura maldade mesmo exploram os menos providos e derrotados pela vida  sabe-se lá por que razão, submissos ao domínio do terror.

Terror da fome, da vergonha, do medo do amanhã que nem é possível existir.

E eis que no meio de tanto “lixo” literalmente, tanta maldade explícita e declarada é possível sim, ainda ser humano.

É possível encontrar no meio dos maus, alguém de alma limpa como impossível até de se ver, que se compadece da dor e carência das crianças assustadas que tiveram suas infâncias roubadas e perderiam assim todo direito de sonhar, de brincar com suas fantasias, coisa de criança, fase de suas vidas usurpadas pelo destino até então.

Fomos apresentados para a personagem Lucinda (Vera Holtz) que ciente da crueldade que a vida impõe a muitos, cativa-se dos infantes e lhes proporciona seu lado materno, rígido em princípios e valores disciplinares, tudo aquilo que uma criança precisa. Claro que tem o lado infeliz, pois todos na história precisam trabalhar para ter algum sustento possível, mas a consciência disso é menos doída do que para outras crianças que na trama, são tratadas como burrinhos de carga, o que a gente já está cansado de ver na vida real.

E Lucinda me levou a emoção ontem a noite, quando proporcionou para as crianças Rita (Mel Maia) e Batata (Bernardo Simões) um pouco de sonho, um momento de pureza, de pura fantasia, o “casamento”. O contraste absoluto da realidade com a fantasia, do lixo e do luxo.

É possível sim ter esperança no meio do lixo, é possível ter pureza de sentimentos diante das maldades que a vida nos impõe e melhor ainda, é possível ainda encontrar pessoas como Lucinda que mesmo no meio da dor, no meio da desgraça que é a vida dura, tem a sutileza de perceber a fantasia e a maravilha que é o amor sem pudores, sem reservas.

Brilhante atuação do elenco infantil na cena e a emoção e pureza passados pela grande Vera, do alto de seu talento fantástico, daquele que passa no olhar.

Deliciem-se com a cena:
Cap 30/3 - RITA E BATATA DE CASAM EM "AVENIDA BRASIL"

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